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    Nascido no Morro da Glória, mais conhecido como Morro da Polícia, na região sul de Porto Alegre, José Edmilson vive de doações e do comércio em semáforos desde os 12 anos, depois que perdeu os pais. Deitado na calçada da rua Silva Só, em frente ao McDonald’s, ele dormia certa vez, na época em que vendia doces no semáforo com a Avenida Ipiranga. Rapidamente, sentiu um puxão nas costas e foi prensado pelo edredom em que se aquecia por um segurança do fast food. Teve, então, seu corpo eletrocutado com uma pistola de choque. Ante a violência sofrida, decidiu mudar de semáforo.

       Não foi a última vez que

Quando ninguém tem coragem de baixar o vidro, ele se faz ouvir pelo papelão

​MÃOS AO ALTO

          Os automóveis passam, seguindo reto ou convertendo à esquerda, morro acima. Outros descem da parte mais elevada do bairro em direção à grande avenida, e então dobram à direita ou à esquerda. O cruzamento das ruas Carlos Trein Filho e Carazinho com as avenidas Nilópolis e Doutor Nilo Peçanha tem movimento intenso durante todo o dia. Localizado na exata intersecção entre os bairros Petrópolis e Bela Vista, é cercado por

imóveis de alto padrão e por algumas poucas, mas luxuosas, casas remanescentes.

        Os sete semáforos que dividem a travessia do cruzamento abrem e fecham em ritmo descompassado. A luz vermelha indica que é hora de ir. Por entre as fileiras de carros caminha, com um pouco de pressa. No centro da pista, os motoristas vêem as mãos suspensas, segurando o papelão em que se lê “me ajude, to com fome”.

teve de dormir na rua. Inúmeras vezes transitou entre calçadas e albergues, centros de acolhimento, pensões e apartamentos alugados. Hoje, aos 36 anos, mora sozinho em uma casa própria, mas não consegue deixar as ruas. É entre os poucos segundos de inércia daqueles apressados veículos que ele ganha o sustento: comida, peças de roupa e dinheiro. Vende pipoca doce por um real a unidade, ou então levanta a placa de papelão em súplica. Alguns fecham a janela, outros balançam a cabeça em negativa.​

      José Edmilson não precisa colocar as mãos no lixo ou roubar. Sobrevive acumulando doações no canteiro central, perto de sua mochila. Ele descansava sentado no meio-fio quando o conheci, cuidando das doações que recebera naquele dia. Isso porque, mesmo em análogas condições de vida, não são raras as rivalidades na rua. Catadores que roubam resíduos uns dos outros, pedintes disputando semáforos. A violência é uma constante no negócio rueiro.​

Além de pedinte, José Edmilson também é vendedor de pipoca

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© 2024 - Pedro Stahnke

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